1 ANO DE HOLANDA

Nesse ano, no dia 20 de julho, fez 1 ano que eu cheguei na Holanda. Antes da mudança, eu não fazia ideia do que esperar, a única coisa que tinha certeza era de que viveria essa experiência de morar fora do país da forma mais intensa possível. Me despedi da família no Brasil e entrei no avião rumo à quase 11 horas de viagem. Pousei em Amsterdam em um dos dias mais quentes do ano. Verão holandês bombando e o sol se punha depois das 22h. O João me esperava no aeroporto com balões e a primeira coisa que fiz quando vi ele ali, sorrindo pra mim, foi sair correndo e abraçá-lo. Ficamos 43 dias separados e naquele momento finalmente a distância acabava (veja o vlog da chegada).

Nas primeiras semanas tudo era novidade - e continua sendo até hoje. Ficamos em Rotterdam, na casa dos nossos primos, até que gente achasse um lar para chamar de nosso. Foi aí que encontramos um apê perfeito num pedacinho de paraíso chamado Bloemendaal. Essa cidadezinha nos acolheu, nos presenteou com um parque ao lado de casa que ficava mais lindo a cada estação que chegava, a praia era perto também, 20 minutos de bicicleta e a gente estava lá. Muitos churrascos, a primeira visita da família, a vista da janela da sala. Aquele lugar foi especial demais.

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Eu aprendi a ser dona de casa na Holanda: supermercado diferente, produtos de limpeza diferentes, comidas e temperos diferentes. Tudo fez parte da experiência. Aos poucos eu aprendi onde deveria comprar cada tipo de coisa: a carne é melhor e mais barata ali, os produtos de limpeza são mais em conta lá e assim fui conseguindo entender o processo. Eu não sabia o significado de cada palavra que a menina do caixa do supermercado me dizia, mas tinha noção do que ela queria dizer e respondia tudo em Holandês (e saia de lá me sentindo A holandesa hahaha).

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Apesar da língua oficial da Holanda ser o Holandês, foi aqui que eu aprendi a falar inglês (e ainda estou aprendendo). Quando cheguei, sabia só o básico do básico - mesmo - e tinha muita vergonha de falar. Ficava nervosa e até chorava, porque simplesmente não conseguia me comunicar. Daí o João, meu marido, fez com que eu tivesse que me virar sozinha: liguei para o seguro saúde, prefeitura e tantos outros lugares. Falei com pessoas diferentes. Fui me soltando. Quando vi, já sabia me virar sozinha e meu inglês - longe de ser perfeito - era o suficiente pra eu saber onde ir e o que fazer. E agora tento aprender o Dutch: Ik ben Vanessa. Ik spreek een beetje Nederlands.

Faz quase 1 mês que nos mudamos para Amsterdam; agora o João está perto do trabalho e eu mais perto das amigas e do centro. E posso dizer? A vida aqui não é perfeita, mas é boa, muito boa. Aqui eu me sinto mais segura. O transporte funciona e a saúde - que não é pública, como muitos pensam - também. É fácil viver aqui, porque aqui eu tenho o que preciso, pago menos por isso e as coisas têm qualidade. Nesse 1 ano, conheci 9 países diferentes, coisa que não faria se estivesse no Brasil. Vi a neve - muita neve. Vi e senti o frio - e QUE frio. Faz muito frio nesse país, chove demais e o vento é intenso. Aprendi isso tomando alguns banhos de chuva - de uma tempestade que começou do nada - e das vezes em que a bicicleta não saia do lugar de tamanha a força da ventania.

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E por falar em bicicleta, hoje não vivo mais sem a minha. Não sei mais ir na esquina sem bicicleta. Faço tudo com ela.

Quero ser sincera com esse relato, por isso vou dizer: não passamos nenhum perrengue aqui. Nos preparamos, nos organizamos, viemos de forma legal (o João tem cidadania italiana) e fizemos tudo do jeito certo. Isso facilita muito. Procuramos fazer o nosso melhor e corremos atrás para que as coisas acontecessem da melhor maneira possível. Seguimos as regras do país, não tentamos impor nossa cultura ou o "jeitinho brasileiro". Não temos história triste para contar. Não sofremos preconceito. Eu sei que não é assim com todo mundo - e eu gostaria que fosse -, mas com a gente tem sido e por isso eu agradeço.

Agora aguenta que vem a parte triste.

A saudade dói. Ficar longe da família dói. A verdade é que a gente se acostuma, no dia a dia a dor ameniza e fica um pouco mais fácil. Mas daí chegam aqueles momentos especiais: nascimentos, aniversários, casamentos, natal.. E a gente não está lá. Eu vejo tudo acontecendo pela tela do celular. E isso dói lá na alma. Essa dor transborda pelos olhos em lágrimas, como está acontecendo agora que escrevo esse parágrafo. Gostaria que todos soubessem que sim, é maravilhoso morar fora, viajar e ter experiências diferentes, mas ficar longe das pessoas que a gente mais ama é uma dor que nunca passa, que fica ali, latejando, pulsando e te faz lembrar que nada é perfeito, porque eles não estão aqui. Você vai perder momentos. Você vai querer colo. Você vai querer comer aquela comida. Mas vai ter que esperar até a próxima visita da família ou a ida de férias ao Brasil. Essa é a verdade.

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Por fim..

Bate-bola rápido das primeiras coisas que vem na cabeça quando falo em Holanda: bitterballen - pesquisa pra ver o que é -, tulipas, croquete, batata-frita, festa, liberdade, felicidade, respeito, granulado no pão, abacate é verdura, cenoura é salgadinho, sanduíche é almoço, faça tudo você mesmo, educação, falar na cara, heineken dá ressaca e não é cerveja, banheiro e toilete são coisas diferentes, stroopwafel, kings day melhor dia, genre ruiva, canais, água, moto na ciclovia, internet rápida, muito museu, primark, mais croquete, peixe cru, cachorro é permitido em lojas e restaurantes, as pessoas sabem aproveitar a vida, picnic, parques, árvores.

Viver aqui tem sido um aprendizado e tanto. Eu amadureci, João amadureceu e nós amadurecemos como casal também. Descobrir a Holanda tem sido uma aventura diária e que eu indico muito para quem pensa em morar fora do Brasil. É um país com regras rígidas, certa burocracia, mas que funciona e vai te trazer muita felicidade. Você vai encontrar histórias de pessoas que sofreram para chegar aqui ou para ficar aqui, mas o final dessas histórias, na maioria das vezes, é feliz.

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Provavelmente não falei tudo o que queria. Acho que é impossível descrever o que tem sido a minha vida nesses primeiros 384 dias de Holanda, mas garanto que é a montanha-russa mais surreal que já andei.