ESTOU ROMANTIZANDO A MATERNIDADE

Aparentemente, ter uma boa gestação e estar se sentindo bem durante a gravidez pode ser considerado um crime. O famoso crime da romantização da maternidade.

Ainda não entendi muito bem a lógica por trás do julgamento desse crime: se estou me sentindo bem, se consigo seguir minha vida normalmente, se curto a gestação e estou feliz pelo bebê que estou gerando, sou falsa e minha vida é perfeita demais. Afinal, como ficam as que não se sentem assim? É tudo mentira minha! Não, eu não posso estar bem, eu preciso sofrer, preciso vomitar todos os dias, preciso estar cansada, com sono e sem disposição. Preciso estar infeliz.

Preciso estar mal para que outras pessoas se sintam bem.

Eu sei que as pessoas têm necessidade de se identificar e de saber que não são as únicas a passar pelo que estão passando. Entendo isso 100%. Mas agora, precisa vir me julgar por eu estar bem? Precisa dizer que vivo fora da realidade e que estou romantizando a maternidade?

E sabe o que é pior? O contrário também acontece. Se eu estivesse mal, exausta, achando péssimo estar grávida e falasse sobre isso nas redes sociais, choveriam comentários do tipo “nossa, mas a gravidez é algo mágico, você não pode se sentir assim” ou “tantas mulheres com o sonho de engravidar e você aí reclamando!".

No fim, não é sobre romantizar ou não a maternidade, mas sim, sobre não termos permissão de apenas nos sentir como nos sentirmos. Eu estou feliz na minha gestação, estou amando estar grávida, estou disposta, me sentindo bem, realizada e consigo fazer minhas tarefas normalmente. E está tudo bem.

Há mulheres que acham a gravidez algo ruim e desconfortável e está tudo bem também.

Apenas nos deixem em paz. Deixem que a gente sinta o que sente. Se a minha gestação está sendo boa, que bom pra mim. Se não estiver sendo boa, faz parte. Se eu estiver feliz, me deixe estar feliz. Se eu quiser reclamar, me deixe reclamar. Apenas me deixe sentir o que estou sentindo.

Se acho que vou conseguir criar uma rotina quando o bebê chegar, me deixe. Se decidi que não vou dar chupeta para o bebê, me deixe. Me deixe ser livre para fazer minhas escolhas e sentir o que sinto.

Se eu escolher não amamentar, me deixe. Se eu escolher usar fraldas descartáveis ao invés de fraldas de pano, me deixe. Que direito você acha que tem de dizer como devo maternar e como devo me sentir?

A maternidade por si só já é um processo que nos muda de formas inimagináveis. Temos hormônios à flor da pele, temos medos, dúvidas e questionamentos. Sentimos culpa, sentimos saudade de uma vida que não vai voltar mais. Vemos nosso corpo mudar. Por quê você precisa deixar isso mais difícil? Se a sua experiência foi diferente da minha, não queira impô-la para mim. Não é porque aconteceu de um jeito com você que será o mesmo comigo. Somos pessoas diferentes. Não é porque você não conseguiu não dar chupeta para o seu bebê que eu não vou conseguir me manter firme na minha decisão. Não é porque você decidiu amamentar em livre demanda por 3 anos que eu sou obrigada a fazer o mesmo. Você, que é mãe e sabe o que é se tornar mãe, deveria lembrar de tudo o que já sentiu nesse processo e ter mais empatia. Lembrar do quanto você sofreu com as opiniões não solicitadas, com os julgamentos e com os olhares tortos de quem não concordava com você. Não é fácil, né? Pois é. Então não repita esse comportamento com outras mães.

Esse texto é um pedido para que, simplesmente, nos deixem sentir o que estamos sentindo. Que não tenhamos medo de falar o quanto estamos felizes e nem o quanto estamos exaustas. Que possamos dizer sem medo que “para mim, a amamentação não foi difícil” sem ter mil pessoas com pedras na mão nos julgando, porque amamentar precisa ser difícil e sofrido.

Você não é obrigada a se identificar comigo e com a forma que eu me sinto. Eu sou única e você é única. Nossas gestações são únicas. Então porque você ainda insiste que precisamos nos sentir da mesma forma o tempo todo?

Eu não estou cometendo um crime. Eu não estou romantizando a maternidade. Eu estou apenas vivendo a minha realidade da melhor forma que consigo. Eu vou seguir sendo honesta com a forma como me sinto. Não vou fingir que estou achando ruim algo que estou amando.

Me deixe sentir o que sinto. É só isso que peço.